O dia 31 de março de 1964 foi um dos mais importantes da história política do Brasil. Nessa data, houve a ascensão dos militares ao poder no Brasil e a queda do presidente João Goulart, dando início a um período impar na história do Brasil conhecido como Regime Militar que duraria 21 anos.
Mas quais foram as causas, os motivos e as consequências desse acontecimento? Como ele se insere no contexto histórico nacional e internacional? Quem foram os principais personagens e grupos envolvidos no 31 de março de 1964? Essas são algumas das questões que este artigo pretende abordar, buscando uma análise equilibrada e baseada em fontes confiáveis.
Neste artigo você vai encontrar:
- Guerra Fria e seu contexto histórico
- Serviços de espionagem que agiam no Brasil
- Jango se encontra com líderes comunistas
- O Comício da Central do Brasil
- Reação da sociedade: A Marcha da família com Deus pela liberdade
- Grupos armados
- O Contragolpe
- Congresso elege General Humberto Castelo Branco como Presidente
- Grupos armados
- Crescimento do Brasil durante o Regime Militar
- Consequências e conclusões sobre o 31 de março de 1964
Guerra Fria e seu contexto histórico
Para entender o que ocorreu em 31 de março de 1964, é preciso voltar um pouco no tempo e situar o Brasil no cenário mundial da época.
O mundo estava dividido pela Guerra Fria, uma disputa ideológica, política e militar entre os Estados Unidos e a União Soviética, as duas superpotências que emergiram após a Segunda Guerra Mundial.
Os EUA defendiam o capitalismo, a democracia liberal e os valores cristãos, enquanto a URSS promovia o comunismo, o socialismo e o ateísmo.
Cada um desses blocos buscava expandir sua influência e seu modelo de sociedade pelo globo, apoiando ou intervindo em países que consideravam estratégicos ou ameaçados pelo inimigo.
O Brasil era um desses países. Com dimensões continentais, riqueza natural e posição geográfica privilegiada, o Brasil despertava o interesse tanto dos EUA quanto da URSS.
Além disso, o país vivia uma situação de instabilidade política, social e econômica desde a renúncia do presidente Jânio Quadros em 1961.
Seu sucessor, João Goulart, conhecido como Jango, era visto com desconfiança pelos setores conservadores da sociedade brasileira, que o acusavam de ser simpatizante do comunismo e de ameaçar a ordem legal e a hierarquia militar.
Jango era oriundo do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e tinha um discurso progressista, mas não era um esquerdista convicto.
Ele assumiu o poder após a Campanha da Legalidade, que derrotou uma tentativa de impedir sua posse por parte dos militares. No entanto, ele teve que aceitar a mudança do regime presidencialista para o parlamentarista por quase dois anos, até recuperar seus plenos poderes em 1963.
Em seu governo, Jango enfrentou uma grave crise econômica e financeira, com inflação alta, dívida externa crescente e baixo crescimento.
Ele também teve que lidar com os conflitos sociais que se intensificaram no país, com movimentos de trabalhadores urbanos, camponeses, estudantes e militares de baixa patente reivindicando reformas estruturais na sociedade brasileira.
Essas reformas eram apoiadas pelo presidente, que as chamava de “reformas de base”, e incluíam mudanças na política agrária, urbana, educacional e tributária.
No entanto, essas propostas encontravam forte resistência no Congresso Nacional, dominado por partidos conservadores como a UDN (União Democrática Nacional) e o PSD (Partido Social Democrático).
Além disso, Jango sofria a oposição de setores influentes da sociedade brasileira, como empresários, latifundiários, igreja católica, imprensa e militares.
As relações entre o Brasil e os Estados Unidos também se deterioraram durante o governo Jango. Os EUA viam com preocupação a aproximação do Brasil com países comunistas ou socialistas como Cuba, China e União Soviética.
Serviços de espionagem que agiam no Brasil
Os serviços de espionagem que agiam no Brasil em 1964!
Durante o período da Guerra Fria, o Brasil foi alvo de vários serviços de espionagem que atuavam no país com diferentes interesses e estratégias. Entre eles, destacam-se:
KGB
A KGB apoiou os grupos de esquerda que lutavam contra o regime militar, fornecendo armas, dinheiro e treinamento.
A KGB (Comitê de Segurança do Estado) da União Soviética, que tinha como objetivo expandir o comunismo na América Latina e desestabilizar os regimes aliados aos Estados Unidos.
A KGB também infiltrou agentes em órgãos do governo, partidos políticos, sindicatos, universidades e meios de comunicação, além de realizar operações de sabotagem e propaganda.
SNI
O SNI (Serviço Nacional de Informação) do Brasil, que foi criado em 1964 pelo regime militar para centralizar o controle das informações referentes à segurança nacional.
O SNI monitorava as atividades de grupos políticos, sociais e culturais considerados subversivos ou contrários aos interesses do regime.
O SNI também se relacionava com a CIA e com outros órgãos de informação da América Latina por meio da Operação Condor.
IPES
O IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais) do Brasil, que foi uma entidade privada criada em 1961 por empresários e militares anticomunistas.
O IPES tinha como objetivo influenciar a opinião pública e as elites políticas em favor das ideias liberais e conservadoras.
O IPES também se relacionava com a CIA e financiava candidatos, partidos, jornais e movimentos contrários ao governo João Goulart.
DI
O serviço de espionagem de Cuba, chamado Dirección de Inteligencia (DI), que tinha como objetivo apoiar os movimentos revolucionários e guerrilheiros na América Latina, inspirados pela Revolução Cubana de 1959.
O serviço cubano enviava armas, dinheiro, treinamento e agentes para o Brasil, onde se aliava a grupos de esquerda como a ALN (Ação Libertadora Nacional), o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) e a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária).
O serviço cubano também mantinha contatos com o governo João Goulart e com políticos e sindicalistas simpatizantes do socialismo.
MSS
O serviço de espionagem da China, chamado Ministry of State Security (MSS), que tinha como objetivo expandir o comunismo na América Latina e disputar a influência com a União Soviética na região.
O serviço chinês apoiava os grupos de esquerda que seguiam a linha maoísta, como o PCdoB (Partido Comunista do Brasil) e a ALN (Ação Libertadora Nacional).
O serviço chinês também buscava estabelecer relações diplomáticas e comerciais com o Brasil, que só foram formalizadas em 1974.
DGSE
O serviço de espionagem da França, chamado Direction Générale de la Sécurité Extérieure (DGSE), que tinha como objetivo defender os interesses nacionais da França e seus aliados na América Latina.
O serviço francês monitorava as atividades dos serviços de espionagem rivais, como os dos Estados Unidos e da União Soviética, e também se interessava pelas questões políticas, econômicas e culturais do Brasil.
O serviço francês também mantinha contatos com personalidades brasileiras influentes, como o ex-presidente Juscelino Kubitschek.
SIS
O serviço de espionagem da Inglaterra, chamado Secret Intelligence Service (SIS) ou MI6, que tinha como objetivo defender os interesses nacionais da Inglaterra e seus aliados na América Latina.
O serviço inglês cooperava com o serviço norte-americano no âmbito da aliança dos “cinco olhos”, que compartilhavam informações de inteligência.
O serviço inglês também se preocupava com as questões políticas, econômicas e estratégicas do Brasil, especialmente em relação à Amazônia e aos recursos naturais.
Continuando…
A participação de outros países na espionagem no Brasil em 1964, além dos Estados Unidos e da União Soviética. Por exemplo, a França e a Inglaterra, que faziam parte da aliança dos “cinco olhos” com os americanos e compartilhavam informações de inteligência; ou a Alemanha e o Japão, que tinham interesses econômicos e estratégicos no país.
As operações clandestinas realizadas pelos serviços de espionagem no Brasil em 1964, tanto para apoiar quanto para combater o governo militar.
Por exemplo, a Operação Brother Sam, que foi um plano de contingência dos Estados Unidos para fornecer apoio logístico e militar; ou a Operação Condor, que foi uma rede de cooperação entre as ditaduras militares do Cone Sul para reprimir e eliminar os opositores políticos.
As denúncias e as resistências à espionagem no Brasil em 1964, tanto por parte de agentes públicos quanto de agentes privados.
Por exemplo, a denúncia feita pelo jornalista Carlos Castello Branco, que revelou a existência de um plano em sua coluna no Jornal do Brasil; ou a resistência feita por alguns militares legalistas, como o general Osvino Ferreira Alves, que tentou organizar uma reação ao golpe em Brasília.
Jango se encontra com líderes comunistas
Nikita Khrushchev: Brasil, 1960
A visita de Nikita Khrushchev ao Brasil foi a primeira de um líder da União Soviética ao país sul-americano, que era considerado um aliado dos Estados Unidos na Guerra Fria.
A visita foi realizada entre 20 e 24 de novembro de 1960, a convite do presidente Juscelino Kubitschek.
A visita de Nikita Khrushchev ao Brasil teve como objetivo ampliar as relações diplomáticas e comerciais entre os dois países, além de buscar apoio político e moral para a causa do socialismo e da paz mundial.
Khrushchev foi recebido com honras pelo presidente Kubitschek e pelo vice-presidente João Goulart, que lhe ofereceram um banquete no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro.
Ele também visitou outras cidades brasileiras, como Brasília, São Paulo e Recife, onde se encontrou com autoridades locais e com representantes dos trabalhadores, dos camponeses e dos estudantes.
A visita de Nikita Khrushchev ao Brasil resultou na assinatura de vários acordos bilaterais, que envolviam temas como o comércio, a cultura, a ciência, a tecnologia e a cooperação técnica.
Entre os acordos destacam-se: o aumento das compras brasileiras de trigo soviético; a concessão de um empréstimo de 100 milhões de dólares para o Brasil; a criação de uma comissão mista para o desenvolvimento econômico; a troca de professores e estudantes entre as universidades dos dois países; a colaboração na exploração do petróleo e na construção de hidrelétricas; e o apoio à candidatura do Brasil para um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
China, 1961
A visita de Goulart à China foi a primeira de um chefe de Estado brasileiro ao país asiático, que era considerado um inimigo pelos Estados Unidos e pela maioria dos países ocidentais por causa do seu regime comunista.
A visita foi vista como um gesto de desafio à política externa norte-americana e como uma demonstração de independência e autonomia do Brasil.
A visita de Goulart à China durou dez dias, entre 20 e 30 de agosto de 1961. Ele foi recebido com honras pelo presidente Mao Tsé-Tung e pelo primeiro-ministro Zhou Enlai, que lhe ofereceram um banquete no Palácio do Povo, em Pequim.
Ele também visitou outras cidades chinesas, como Xangai, Nanquim e Cantão, onde se encontrou com autoridades locais e com representantes dos trabalhadores, dos camponeses e dos estudantes.
A visita de Goulart à China resultou na assinatura de um comunicado conjunto, no qual os dois países expressaram o desejo de estreitar as relações bilaterais e de cooperar em questões de interesse comum.
Eles também afirmaram o respeito mútuo pela soberania e pela integridade territorial de cada nação, bem como o apoio à luta dos povos colonizados e oprimidos pela libertação nacional e social.
Além disso, eles condenaram a agressão imperialista e a intervenção nos assuntos internos dos países em desenvolvimento.
União Soviética, 1961
A visita de Goulart à União Soviética foi a segunda de um chefe de Estado brasileiro ao país comunista, depois da visita de Juscelino Kubitschek em 1958. A visita foi realizada entre 30 de agosto e 6 de setembro de 1961, logo após a visita à China.
A visita de Goulart à União Soviética teve como objetivo fortalecer as relações diplomáticas e comerciais entre os dois países, além de buscar apoio político e financeiro para o seu governo.
Goulart foi recebido com honras pelo primeiro-ministro Nikita Khrushchev e pelo presidente Leonid Brezhnev, que lhe ofereceram um banquete no Kremlin, em Moscou.
Ele também visitou outras cidades soviéticas, como Leningrado, Kiev e Tbilisi, onde se encontrou com autoridades locais e com representantes dos trabalhadores, dos camponeses e dos estudantes.
A visita de Goulart à União Soviética resultou na assinatura de vários acordos bilaterais, que envolviam temas como o comércio, a cultura, a ciência, a tecnologia e a cooperação técnica.
Entre os acordos destacam-se: o aumento das compras soviéticas de café brasileiro; a concessão de um empréstimo de 100 milhões de dólares para o Brasil; a criação de uma comissão mista para o desenvolvimento econômico; a troca de professores e estudantes entre as universidades dos dois países; a colaboração na exploração do petróleo e na construção de hidrelétricas; e o apoio à candidatura do Brasil para um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Iugoslávia, 1962
A Conferência dos Países Não Alinhados foi um encontro de líderes de países que não se identificavam nem com o bloco capitalista liderado pelos Estados Unidos nem com o bloco comunista liderado pela União Soviética, durante a Guerra Fria.
O objetivo era defender a autodeterminação dos povos, a cooperação entre as nações em desenvolvimento e a paz mundial.
A primeira conferência ocorreu em 1961, em Belgrado, e reuniu 25 países. A segunda conferência ocorreu em 1964, no Cairo, e reuniu 47 países.
A visita de João Goulart à Conferência dos Países Não Alinhados em Belgrado foi realizada entre 1º e 6 de setembro de 1962, logo após a visita à União Soviética.
Foi a primeira participação do Brasil como observador nesse fórum internacional. Goulart foi acompanhado pelo chanceler San Tiago Dantas e pelo embaixador Araújo Castro.
A visita de João Goulart à Conferência dos Países Não Alinhados em Belgrado teve como objetivo afirmar a política externa independente do Brasil, que buscava diversificar as relações diplomáticas e comerciais do país com outras regiões do mundo, além de defender os interesses nacionais e regionais no cenário internacional.
Goulart discursou na conferência defendendo a solução pacífica dos conflitos, o respeito à soberania dos Estados, a cooperação econômica e cultural entre os países não alinhados e o apoio à descolonização da África e da Ásia.
Ele também se encontrou com vários líderes mundiais presentes no evento, como o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, o primeiro-ministro indiano Jawaharlal Nehru, o presidente indonésio Sukarno e o presidente iugoslavo Josip Broz Tito.
Fidel Castro, 1962
O encontro de João Goulart com Fidel Castro ocorreu durante a Conferência dos Países Não Alinhados em Belgrado, na Iugoslávia, em setembro de 1962. Foi a primeira vez que os dois líderes se encontraram pessoalmente.
O encontro de João Goulart com Fidel Castro teve como objetivo estreitar as relações entre o Brasil e Cuba, que eram dois países que defendiam o socialismo e a soberania nacional na América Latina.
Goulart e Castro conversaram sobre temas como a reforma agrária, a industrialização, a educação, a saúde e a cultura.
Eles também trocaram impressões sobre a situação política e social do continente e sobre as ameaças do imperialismo norte-americano.
O encontro de João Goulart com Fidel Castro causou polêmica e reação nos setores conservadores e anticomunistas da sociedade brasileira, que viam Cuba como um país inimigo e perigoso para o Brasil.
O encontro também provocou a insatisfação dos Estados Unidos, que consideravam Cuba uma ameaça à sua segurança e à sua hegemonia na região.
O encontro ocorreu poucos meses antes da Crise dos Mísseis de Cuba, que quase levou a uma guerra nuclear entre os Estados Unidos e a União Soviética.
Che Guevara, 1962
O encontro de João Goulart com Che Guevara também ocorreu durante a Conferência dos Países Não Alinhados em Belgrado, na Iugoslávia, em setembro de 1962.
Che Guevara era o ministro da Indústria de Cuba e um dos principais líderes da Revolução Cubana, ao lado de Fidel Castro.
O encontro de João Goulart com Che Guevara teve como objetivo fortalecer os laços de amizade e solidariedade entre o Brasil e Cuba, que compartilhavam uma visão socialista e anti-imperialista para a América Latina.
Goulart e Guevara discutiram sobre as possibilidades de cooperação econômica e técnica entre os dois países, especialmente nas áreas de energia, transporte e comunicação.
Eles também abordaram temas como a luta armada, a guerrilha rural, a reforma agrária e a educação popular.
O encontro de João Goulart com Che Guevara gerou admiração e simpatia entre os dois líderes, que se identificaram pela sua origem gaúcha e pela sua vocação revolucionária.
Goulart presenteou Guevara com um poncho típico do Rio Grande do Sul e um livro sobre a Revolução Farroupilha. Guevara presenteou Goulart com uma boina com a estrela vermelha e um livro sobre a Revolução Cubana.
Presidente francês Charles de Gaulle, 1963
A visita do presidente francês Charles de Gaulle a João Goulart foi um acontecimento histórico que ocorreu em 1963, antes do regime militar que depôs o presidente brasileiro.
A visita teve como objetivo fortalecer as relações políticas e econômicas entre os dois países, além de demonstrar o apoio da França ao governo democrático de Goulart.
De Gaulle foi o primeiro chefe de Estado estrangeiro a visitar o Brasil durante o governo de Goulart e foi recebido com honras pelo presidente brasileiro e pelo povo brasileiro.
Ele visitou várias cidades brasileiras, como Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo e Porto Alegre, onde proferiu discursos e participou de cerimônias oficiais.
A visita de De Gaulle a Goulart ficou marcada pela frase “O Brasil é um país grande”, que ele teria dito em referência ao potencial econômico e social do país.
Essa frase foi interpretada como um elogio e um incentivo ao desenvolvimento do Brasil.
A visita de De Gaulle a Goulart também teve repercussões na política externa brasileira, que passou a buscar uma maior aproximação com a França e com outros países europeus, além de uma maior independência em relação aos Estados Unidos.
A visita de De Gaulle a Goulart foi um exemplo da política externa independente que o Brasil adotou durante o governo de Goulart.
O comício da Central do Brasil
Um dos momentos mais emblemáticos do governo Jango foi o comício realizado no dia 13 de março de 1964 na Praça da República, em frente à estação ferroviária Central do Brasil, no Rio de Janeiro.
O evento, organizado pelo Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), reuniu cerca de 150 mil pessoas, incluindo membros de entidades sindicais e outras organizações de trabalhadores, servidores públicos civis e militares, estudantes e simpatizantes das reformas de base.
O objetivo era demonstrar o apoio popular às medidas propostas pelo presidente e pressionar o Congresso a aprová-las.
No palanque, Jango discursou por cerca de uma hora, defendendo as reformas agrária, urbana, educacional, bancária e eleitoral.
Ele também anunciou a assinatura de dois decretos: um que nacionalizava as refinarias de petróleo privadas e outro que autorizava a desapropriação de terras improdutivas para fins de reforma agrária.
Além disso, ele revelou que estava preparando outros projetos de lei que previam a limitação da remessa de lucros para o exterior, a concessão do voto aos analfabetos e aos praças das Forças Armadas e a regulamentação da imprensa.
O comício da Central do Brasil foi visto como um ato de desafio ao Congresso e aos setores conservadores da sociedade brasileira, que interpretaram as medidas anunciadas por Jango como uma tentativa de instaurar o socialismo no país.
O evento também aumentou a tensão entre o governo e os militares, que se sentiram desrespeitados pela presença de sargentos insubordinados no palanque e pela proposta de voto aos praças.
Além disso, o comício provocou uma reação contrária por parte dos grupos que se opunham às reformas de base, que organizaram manifestações públicas em defesa da democracia e da ordem.
Reação da sociedade: A Marcha da família com Deus pela liberdade
Uma das principais manifestações contrárias ao comício da Central do Brasil foi a marcha da família com Deus pela liberdade, que foi inspirada em uma manifestação semelhante ocorrida na Venezuela em 1958, contra o ditador Marcos Pérez Jiménez.
No Brasil, a marcha foi organizada por grupos conservadores, anticomunistas e contrários às reformas de base propostas pelo presidente João Goulart.
A primeira marcha aconteceu em São Paulo, no dia 19 de março de 1964, reunindo entre 300 e 500 mil pessoas.
O evento contou com o apoio da igreja católica, de empresários, de políticos da UDN e do PSD, de mulheres da classe média e alta e de parte da imprensa.
Os participantes levavam cartazes e faixas com slogans como “Viva a democracia”, “Abaixo o comunismo”, “Brasil acima de tudo” e “Deus salve o Brasil”.
A marcha expressava o temor desses setores diante da possibilidade de uma radicalização política e social no país e da influência comunista no governo Jango.
A marcha da família com Deus pela liberdade foi seguida por outras manifestações similares em outras cidades brasileiras, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre.
Essas manifestações mostravam que havia uma parcela significativa da sociedade brasileira que não apoiava as reformas de base e que estava disposta a resistir a elas.
Esses grupos também contavam com o respaldo dos Estados Unidos, que temiam a perda de sua influência na América Latina e o avanço do comunismo na região.
Os Estados Unidos mantinham uma rede de espionagem e intervenção no Brasil por meio da CIA e do IBAD, que financiavam candidatos anticomunistas nas eleições e apoiavam movimentos civis e militares contrários ao governo Jango.
A marcha da família com Deus pela liberdade foi um dos fatores que contribuíram para a ascensão dos militares ao poder, com a saída iniciou-se o regime militar que duraria 21 anos.
Os militares contaram com o apoio dos setores conservadores da sociedade brasileira, que viam neles uma forma de restaurar a ordem e a democracia no país.
Grupos armados
ALN
Aliança Libertadora Nacional (ALN): Foi fundada em 1968 por Carlos Marighella e tinha como objetivo principal a luta armada contra o regime militar. A ALN foi responsável por diversos assaltos a bancos e sequestros de diplomatas estrangeiros. Em 1969, a ALN se uniu à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) para formar a organização VAR-Palmares.
VPR
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR): Foi fundada em 1966 por Carlos Lamarca e outros militares dissidentes.
A VPR tinha como objetivo principal a luta armada contra o regime militar e foi responsável por diversos assaltos a bancos e sequestros de diplomatas estrangeiros.
Em 1969, a VPR se uniu à Aliança Libertadora Nacional (ALN) para formar a organização VAR-Palmares.
VAR-Palmares
VAR-Palmares: Foi criada em 1969 pela união da Aliança Libertadora Nacional (ALN) e da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
A VAR-Palmares foi uma das principais organizações guerrilheiras que atuaram durante o regime militar no Brasil. A organização foi responsável por diversos assaltos a bancos e sequestros de diplomatas estrangeiros. Em 1971, a VAR-Palmares foi desmantelada pelo regime militar.
MR-8
MR-8: Foi fundado em 1967 por militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB). O MR-8 tinha como objetivo principal a luta armada contra o regime militar e foi responsável por diversos assaltos a bancos e sequestros de diplomatas estrangeiros.
Em 1972, o MR-8 sequestrou o embaixador suíço Giovanni Bucher, que foi libertado após o governo brasileiro libertar 70 presos políticos.
PCB
Partido Comunista Brasileiro (PCB): Foi fundado em 1922 e é um dos partidos políticos mais antigos do Brasil.
Durante o regime militar, o PCB foi perseguido pelo governo e seus membros foram presos e torturados. Alguns militantes do PCB se juntaram a outros grupos guerrilheiros para lutar contra o regime militar.
Organização Revolucionária Marxista
Organização Revolucionária Marxista – Política Operária (Polop): Foi fundada em 1968 por militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
A Polop tinha como objetivo principal a luta armada contra o regime militar e foi responsável por diversos assaltos a bancos e sequestros de diplomatas estrangeiros.
Em 1970, a Polop se uniu à Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares).
COLINA
Comando de Libertação Nacional (COLINA): Foi fundado em 1969 por militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
O COLINA tinha como objetivo principal a luta armada contra o regime militar e foi responsável por diversos assaltos a bancos e sequestros de diplomatas estrangeiros. Em 1974, o COLINA foi desmantelado pelo regime militar.
O Contra ataque
No Brasil, o comunismo teve sua atuação marcada desde o século XX por diversos movimentos sociais, partidos comunistas e importantes pensadores marxistas.
Uma das principais tentativas de implantação do comunismo no Brasil ocorreu em 1964, quando o presidente João Goulart, eleito pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), enfrentou forte oposição de setores conservadores da sociedade, como as elites econômicas, a imprensa, a Igreja Católica e as Forças Armadas.
Esses setores acusavam Goulart de ser simpatizante do comunismo e de planejar uma revolução socialista no país, em aliança com líderes internacionais de esquerda, como Fidel Castro e Che Guevara.
Goulart tinha um programa de reformas de base, que incluía medidas como a reforma agrária, a reforma urbana, a reforma educacional, a reforma tributária e a ampliação dos direitos trabalhistas.
Essas medidas eram vistas como ameaçadoras pelos interesses das classes dominantes e como indícios de uma radicalização política do governo. Além disso, Goulart enfrentava uma crise econômica, marcada pela inflação, pelo endividamento externo e pela dependência dos Estados Unidos
Em março de 1964, Goulart realizou um comício na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, onde anunciou as reformas de base e criticou os setores reacionários que se opunham ao seu governo.
O comício reuniu cerca de 150 mil pessoas e foi considerado um ato de desafio à ordem constitucional.
No dia seguinte, ocorreu uma marcha da família com Deus pela liberdade, organizada pela Igreja Católica e pelos grupos anticomunistas, que reuniu cerca de 500 mil pessoas em São Paulo e pediu a deposição de Goulart.
Na madrugada do dia 31 de março de 1964, o general Olímpio Mourão (Comandante da 4ª Região Militar) iniciou um movimento militar em Minas Gerais, rumo ao Rio de Janeiro com o apoio dos Estados Unidos, que temiam a expansão do comunismo na América Latina após a Revolução Cubana de 1959.
A ação foi apoiada por outros generais, como Humberto de Alencar Castelo Branco e Arthur da Costa e Silva, que comandavam o Estado-Maior do Exército.
O movimento militar contou também com a adesão de governadores civis, como Magalhães Pinto, de Minas Gerais, e Carlos Lacerda, da Guanabara.
O movimento contou com a adesão de outras unidades militares e rapidamente se espalhou pelo país. Goulart tentou resistir, mas não conseguiu o apoio suficiente dos militares legalistas e dos partidos políticos. Ele acabou renunciando ao cargo e se exilando no Uruguai.
O presidente João Goulart estava no Rio de Janeiro quando soube da ação. Ele tentou resistir, convocando seus ministros e aliados políticos para uma reunião no Palácio das Laranjeiras.
Ele também pediu o apoio dos governadores leais, como Miguel Arraes, de Pernambuco, e Seixas Dória, de Sergipe, e dos movimentos populares e sindicais. No entanto, ele não encontrou respaldo suficiente para enfrentar a ação militar.
A maior parte das Forças Armadas aderiu ao movimento ou se manteve neutra. Os governadores do Nordeste não tinham condições militares de reagir. Os trabalhadores e os estudantes não foram mobilizados a tempo.
Diante da situação crítica, Jango decidiu sair do Rio de Janeiro na noite de 1º de abril e seguir para Brasília. Lá, ele esperava contar com o apoio do Congresso Nacional e parte do Exército, comandado pelo general Ladário Pereira Teles.
No entanto, ele foi informado que o Congresso havia declarado a vacância da Presidência da República e que o general Ladário havia se rendido. Sem alternativa, Jango embarcou para Porto Alegre na madrugada de 2 de abril, onde se encontrou com seu cunhado Leonel Brizola.
Brizola queria dar o golpe, pois ele tinha planos de conspiração e tentou organizar uma resistência armada contra os militares no Rio Grande do Sul.
Jango preferiu fugir para o Uruguai no dia 4 de abril, iniciando seu exílio político.
Com a saída de Jango do país, os militares assumiram o controle do governo. Eles formaram uma junta militar provisória, composta pelos ministros da Marinha, Augusto Rademaker; do Exército, Artur da Costa e Silva; e da Aeronáutica, Francisco de Assis Correia de Melo.
A junta militar emitiu um Ato Institucional (AI-1) no dia 9 de abril, que cassou os direitos políticos de centenas de pessoas consideradas subversivas ou corruptas.
Congresso elege General Humberto Castelo Branco como Presidente
Castelo Branco foi o primeiro presidente militar do regime que se iniciou em 1964 no Brasil. Ele foi escolhido em uma eleição indireta realizada em 11 de abril de 1964, após a saída do presidente João Goulart.
Castelo Branco concorreu contra Juarez Távora e Eurico Gaspar Dutra e venceu com a maioria absoluta dos votos. Ele assumiu o cargo oficialmente no dia 15 de abril de 1964.
O governo de Castelo Branco foi caracterizado pela restrição política e pela implantação dos atos institucionais, que concediam poderes extraordinários ao presidente.
Ele também promoveu reformas na economia, na administração pública e na Constituição. Castelo Branco governou até 15 de março de 1967, quando passou o cargo ao seu sucessor, Costa e Silva. A nova Constituição brasileira, elaborada pelo seu governo, entrou em vigor nesse mesmo dia .
Crescimento do Brasil durante o Regime Militar
O regime militar no Brasil foi um período de 21 anos (1964-1985) em que o país foi governado por uma junta de generais que assumiram o poder através de uma eleição democrática como já mencionada neste artigo.
O regime militar foi marcado pelo combate aos grupos armados e guerrilhas. Houve o aumento da segurança em todo o país e crescimento econômico conhecido como “milagre econômico”.
O milagre econômico foi um fenômeno que ocorreu entre 1968 e 1973, quando o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu a uma taxa média acima de 10% ao ano, a inflação oscilou entre 15% e 20% ao ano e a construção civil cresceu, em média, 15% ao ano.
Esse crescimento foi resultado de políticas econômicas implementadas pelo governo militar, que visavam modernizar a economia brasileira e integrá-la ao mercado internacional.
Entre essas políticas, destacam-se:
- A abertura da economia ao capital estrangeiro, por meio de incentivos fiscais e cambiais, que estimularam os investimentos externos em setores como a indústria automobilística, a siderurgia e a petroquímica.
- O endividamento externo, por meio da captação de empréstimos junto a organismos internacionais e bancos privados, que financiaram projetos de infraestrutura, como rodovias, hidrelétricas e telecomunicações.
- O planejamento centralizado, por meio de órgãos como o Conselho Monetário Nacional (CMN), o Banco Central (BC) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que coordenavam as políticas monetária, fiscal e creditícia.
- O controle dos salários e dos preços, por meio de tabelamentos e congelamentos, que buscavam conter a inflação e aumentar a produtividade.
- O incentivo à exportação, por meio da desvalorização cambial e da redução de impostos, que tornaram os produtos brasileiros mais competitivos no mercado externo.
O crescimento econômico do Brasil durante o regime militar trouxe benefícios para alguns setores da sociedade, como os empresários, os militares e as classes médias urbanas. Esses setores se beneficiaram do aumento da renda, do consumo e do acesso a bens duráveis.
Consequências e conclusões sobre o 31 de março de 1964
Dito isso, podemos observar que o regime militar trouxe mudanças significativas ao Brasil.
Ao longo dos seus anos de governo, o país passou por uma modernização econômica, infraestrutura e social, com projetos ambiciosos que permitiram o desenvolvimento de setores-chave da economia, tais como a construção de hidrelétricas, pontes e rodovias, além da instalação de indústrias que ajudaram a impulsionar a economia do país.
Além disso, o regime militar estabilizou o país politicamente, trazendo um período de relativa paz social e acabando com as frequentes crises políticas e as instabilidades do período anterior.
O governo militar também investiu em políticas públicas que melhoraram a educação e a saúde, além de ter promovido a modernização das forças armadas e das forças policiais.
Outro ponto importante é que o regime militar permitiu a expansão do Brasil no cenário internacional, ampliando suas relações comerciais e diplomáticas com outros países.
Isso ajudou a posicionar o país como uma potência emergente e a abrir portas para novas oportunidades de investimento e comércio.
Portanto, podemos concluir que, apesar dos problemas e dificuldades enfrentados durante o regime militar, é importante reconhecer suas contribuições para o desenvolvimento do país, como a modernização da infraestrutura e das instituições, a estabilização política e o fortalecimento da presença internacional do Brasil.
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Golpe_de_Estado_no_Brasil_em_1964
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